domingo, 10 de dezembro de 2017
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Eu aceitei meu desafio
Engravidei dele
Eu Engravidei dele sabendo
Que as viagens todas são só de ida
Ficamos por lá onde vamos
Voltamos sempre outros
E se não,
Mudou o chão, as paredes, o chuveiro, as plantas
Que plantas?
Concreto: Esteja
Que ser é império
E todo império cai
Mas pode cair bem
Como caiu o bastão do imperador
Eu joguei ele no mangue
E ainda assim, e certamente por isso
Ele brotou lindo
E ainda assim, como tudo,
Por enquanto.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Agradeci a deus por esse encanto
Que alumiava mais ainda
Nossa chama, nossa união
deus não gostou muito
De minha apropriação
De quem é o vento
Que leva a canção?
Se o vento não é de ninguém, de quem seriam as canções
Que são cantatas libertárias
Alforrias, orações?
Agradeço mais ainda
Agora que desconfio
Que quem canta com amor
Muda os ventos
Torna-se vento
E ecoa para sempre
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Torto
Sem casta nem mandamento
Um anjo
Rouco
De orar pra pôr fim no tormento
Um anjo
Louco
Que chora o distanciamento
Um anjo
Bobo
Aprendendo o valor do sofrimento
Um anjo
Fofo
Afim de usar seu talento
Expõe todas as suas faces
Pratica todo bem que sabe
E já cansado do contínuo
Vir-a-ser-sol-de-outrem
Perde a força da espada e do jibão
Vem-a-ser-só
Que a meta que lhe disseram
Era falsa
Meigo e indefeso
Sente todo peso
Das chibatadas distribuídas
Equalitariamente sob todas as faces
Jogam cuspe, merda, cruz, lágrimas, cruz, culpa, 100 moedas, 100 dedos na cara ou no cu.
Moedas
Para lembrar como se exige anjo.
Tem que ser distante que nem Deus.
Um anjo segue torto
Agora mais ainda
Que ele percebe ter uma só vida
Por vezes lacrimejantes sangues de amores perdidos me fazem sambar.
Se queres a felicidade
Mofada, celeste, pintada
Recomendo-te algum anjo
Que nunca tenha caído
E que por ter essas asas de ouro também não sabem caminhar
Eu sou o caminho
Eu sou o anjinho de Santa Maria de Fátima.
A padroeira de jardim Brasil.
Eu sou o anjinho da vida
Esta merda torta.
domingo, 8 de outubro de 2017
Ele estaria muito preocupado
Se a gente acredita nele ou não
E acho que ele nem tá
Que promessas vem e vão que nem tumor
E a minha inocência se foi faz tempo
A maldade dos homens é o horror
Que nos mata de amadurecimento
Se viessem a mim todas as criancinhas
E eu pudesse lhes dizer algo
Com autoridade de quem matou a adultez
Diria forte, uma só vez
Lili, Ame.
Que todas as crianças moram em ti.
Lili, Ame.
Que a coisa mais inocente é sorrir
Lili, Ame.
Que chegaram lírios pra você cheirar
Olhando pro teto que já lhe foi familiar
E fazendo nascer nele a pureza, o Silêncio, a ilusão.
o sonho é a intenção de dias melhores.
Sonho, sono, silêncio.
Sonho que o amor venceu tudo
Sono bem dormido depois do almoço
Silêncio, que não tenho o verbo todo
Ação, toma aqui um pedacinho de bolo.
Enquanto isso
Lili, Ama.
Que lírios não nascem sozinhos.
terça-feira, 3 de outubro de 2017
Tantos mortos nos estados unidos.
Um cara pegou uma metralhadora
E atirou em todo mundo.
Puft
Os pobres estão morrendo
De fome, de ódio, de exclusão, de gemidos (até de crianças)
Mas não têm bandas avassaladoras
Fazendo trilha pra morte dos imundos
A poesia morre, nascem os números.
Quem está sendo mais assassinado?
A poesia morre, contam os números.
O que é mais noticiado?
A poesia morre.
Na fila do SUS
E da mídia
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Mastigou, se apaixonou.
É o big big do amor, moço.
Uma pessoa distante
Geralmente
Tem portões de metal
O paraíso distante.
Também, Ente
É protegido
Por portões de metal
O inferno escaldante
Necessariamente
É pintado
Pra parecer que tem portões de metal.
Se um dos portões fosse de big big
Você iria pra ele?
Se um dos portões fosse de big big
você iria por ele??
- Se pagar 0,50rsrs
Vou não. Tá caro.
Metal tem preço de sangue.
Estão morrendo tantos
Que é mermo que sê de graça.
Ônibus são assaltados
Ciclistas atropelados
Surdos gritam evangelhos
Em libras, todos os dias, oro
Ônibus superfaturados
Ciclistas enterrados
Pedestres humilhados
E cegos proclamam-se testemunhas oculares
Nos lares, oro.
Sem ter nenhum meu
Para que chegues bem ao teu,
Oro.
O grande outro mandou dizer
Mais pra quem tem mais
Menos pra quem tem menos
Oração pra quem não quer perder
Pro ônibus, pra fala, pra faca, cais
Caos, tempo, recife.
Oro
Para que voltes bem
E,
Se possível,
Sem querer abusar
De Deus
Como querem abusar de ti,
Que possas voltar pra mim.
Teu sorriso mordido
Os falsos títulos
Tuas mentiras canalhas
As folhas na calha
Teu cheirinho entorpecente
O ranger dos dentes
Quantas cores foram embora
Teu choro entregue
As flores mortas
Tuas estradas tortas
Os turnos distantes
Teus coturnos na estante
Com meu coração de fôrma pra sola.
e eu também fui embora.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Incerto de si, vê suas lacunas
Água na boca, salgada espuma
Quando respondida
Silêncio e tormento
E sonha com o acalanto de se afundar dentro dele ou flutuar por sua derme pleno como um cristo.
Caso não sejas pessoa de pouca fé, fiz um barrio de vinho da água que escorreu de nossos olhos.
Bebamos.
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
Joguei as chaves fora
Cantei-te samba é dor
“Tristeza é senhora”
Mas eu sou ruim de memória
E esqueço as vezes
Que deixastes reserva
Embaixo do tapete.
Só não sou ruim de memória
Pra lembrar das noites travessas
Nas tuas coxas espessas
Onde me sinto dono da história.
E não somos?
Agora carrego um elefantinho no chaveiro.
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
Declarações de amor foram feitas
Poesias nasceram
Bebês morreram
Carros bateram
Desculpas foram aceitas
Sob efeito de vacina
Curas foram entregues às meninas
Vírus retiveram
Bebês morreram
Leis bateram
Outras foram aceitas
Sob efeito de coca
Ceais de natal foram celebradas
Televisores ligaram
Bebês morreram
Culturas bateram
Políticas foram aceitas
Sob efeito de sal
Casas de fé foram isoladas
Comidas apuradas
Bebês morreram
Pressões bateram
Dietas foram aceitas
Sob efeito de fumaça
Mensagens-paz foram enviadas
Shows aconteceram
Bebês morreram
Aviões bateram
Químicas foram aceitas
Que droga.
Há gente no meio
A gente do meio
Fica vendo o bebê homem
Ser errado e direito
Que droga
Tem gente no meio
A gente do meio
Vai dizendo que a vida
É nuance desse jeito
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Vieram pelo infinito e misterioso azul
Os que conseguiram chegar
Estavam tão exauridos.
E meu mestre me ensina:
Respira, Buga!
É uma arte de resistência, tá ligado?
Se alguém lhe ver cansado
Vai querer dar uma rasteira
Quando meus ancestrais vieram de além-terra
Se fortaleceram no árido e rigoroso marrom
Os que conseguiram chegar
Estavam tão exauridos
E meu mestre me ensina:
Pensa, Buga!
Quando eu chuto, chuto com a mente
Desce o jogo, finta com a gente.
Não tem medo do chão
Dele viemos e à ele retornaremos
Quando meus ancestrais vieram de além-mata
Fugiam no verde que os acolhera desde sempre
Os que conseguiram chegar
Estavam tão exauridos
E meu mestre me ensina:
Pelo tempo, pela estrada, pelo que foi vencido
Com palavras também luto.
Quando meus ancestrais
Libertaram-se de muitos limites
E o mestre já tinha explicado como existem
Dos poucos que conseguiram chegar
Estamos tão exauridos
Do roxo das pancadas da vida
Ao vermelho que nos sangrou a lida
Há semelhante garra e compaixão
Em resistir com veemência a tudo que diz não
Já no branco...
No branco há a paz
De quem sabe o que fez e o que faz
De quem soube persistir, de quem quis aprender
E se dispôs a ser um eterno aprendiz de si e das artes
A não querer ser mais do que ninguém
A ser velho mestre e aluno Neném.
Hoje ele vê o branco das nuvens e o azul do céu mostrarem como viver bem.
No fim, sermos tão mestre quanto aluno.
domingo, 20 de agosto de 2017
Que a gente não tá preparado pra responder
Se encabula, se assusta, faz até parecer
Que a gente não se come animalescamente
Todo dia, Todo dia.
De onde vêm as verdades?
Perspectiva permissiva, amor
No teu olhar elas nascem
Que você já fudeu tudo que olhou
De onde vêm as mentiras?
Escolha ativa, amor
Das verdades que construístes em cima
Das rivais que você inventou
De onde vem a existência?
Da temperança e do caos, amor
Que verdades se casam e se traem
Todo dia, todo dia.
Tu também sabes trair.
Eu te ensinei.
A partir do momento que mesmo te amando
Eu te deixei.
Não piora a mentira. Assume o que é teu
Não foge de ti, pessoa linda
Fode também as verdades de outrem
E a tuas ganharão mais vida.
Todo dia, todo dia.
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Olhos.
Trazem consigo toda luz
Toda não-luz.
Que olhando você já reduz
Ao que queres ou ao que não queres perceber
Teu olhar está impregnado de ti
Desimpregina-o pois quando fores me olhar
Lança-te na, saibas desde já que falha, missão de me ver
Irás então despir meu olhar.
Big bangs explodirão em nós de rosa
Abrilhantando tudo que aprendemos.
Tudo que amamos, e talvez ainda amemos
Explodirão em nós boca de lobo
Que formam em nós tudo que aprendemos
Tudo que amamos, e talvez ainda amemos
Ao menos, por via da saudade do que fomos e da esperança de sermos mais ainda
Nos olhos nus.
Olhos
segunda-feira, 24 de julho de 2017
[24/7 6:49 PM] Luiz Veloso: Posso postar no blo
[24/7 6:49 PM] Luiz Veloso: Blog*?
[24/7 6:49 PM] Mamãe: Sim
[24/7 6:49 PM] Luiz Veloso: Leia primeiro
[24/7 6:49 PM] Mamãe: Esse não consigo abrir
[24/7 6:50 PM] Mamãe: Como faço?
[24/7 6:50 PM] Luiz Veloso:
[24/7 6:50 PM] Luiz Veloso: Esse é o texto
[24/7 6:51 PM] Mamãe: Pode postar
[24/7 6:51 PM] Mamãe: ❤
[24/7 6:52 PM] Mamãe: Como diria vc: gratidão!
Dia dos pais tá chegando.
E eu tenho que dar um presente à minha mãe
Me ajuda a escolher um?
Ela gosta de arrumar a casa, gosta de cozinhar
Gosta de cuida cuidar dos ôto,
gosta de festa, gosta de música boa
Gosta de tomar uma. Chega em casa perguntando se eu jantei direito, repetidas vezes, se estou me cuidando, se eu estou jantando, repetidas vezes e eu digo que estou bem, fazendo as coisas boas pra mim, a ajudo a subir a escada do duplex peço a bença, boa noite, E vou-me embora.
domingo, 23 de julho de 2017
Quantas batalhas são travadas em ti
Diariamente?
Quantos encontros acontecem em ti
Casualmente?
Quantos desencontros já chorastes
Prudentemente?
Dos que pisaram nas ruas flores
Quantos sapatos vistes ser engraxados
Brilhantemente?
Dos que se deslocaram
Quantos ombros tu vistes esbarrar
Violentamente?
Dos que se desataram
Quantos destinos prometestes enlaçar
Seguramente?
Dos que queriam dormir juntos
Quantos amores fizestes acordar
Impiedosamente
De frio, de fome, de silêncio, de distância, de baculejo, de crente pregando, de cd vendendo, de afeto fudendo, de afeto morrendo tão
Guararapesmente?
terça-feira, 18 de julho de 2017
É ação.
Fácil de não perceber
Quando no prato lavado,
Quando na cama arrumada
Quando se lembra de trazer a comida que agrada
Quando turbilhão, festa de amor que exalta
A vontade sublime partilhada
De estar do lado do bem
Sem querer fazer nada
A preguiça não é palavra, nem ideia
É vontade
Fácil de não perceber
Meus órgãos são honestos
Quando bocejo é externado
Quando a câimbra é instaurada
Quando não quero ir ao encontro do bem que falta
Quando as festas do amor parecem chatas
Há vontade sublime encarnada
de não se dar bem
com uma vidinha aguada
Vida não é palavra nem ideia
É dança
Fácil de não perceber
Dos sabores
Ritmos
Amores
e preguiça, claro
que autoriza e desautoriza qualquer um destes emergir
mostrando qual vida teu eu deseja esculpir
Que nem a preguiça que bateu de terminar esse texto.
sábado, 15 de julho de 2017
De tanto que me aqueci
De vida, nem percebi
Que tudo era folha seca
E eu, capoeira, queimei rápido demais
Na casa do poeta, onde o tempo não passa
Não virei brasa nem fumaça
Nem via como ameaça tantos graus de amor
Na casa do poeta, vejo-me fogo vejo-me flor
Foi na casa do poeta que tirei os sentidos da lama
Com flechas de sonhos antigos, o ideal me atacava
Eu, sendo chama,
Eu dou-lhe as costas e suas bobagens viram pó antes de me tocar.
Que eu sou poeta, dono do fogo doravante chamado palavra
E na casa do poeta, me inflamo
Vou vendo o amor assim, incendiando todas as casas
Que a casa do amor é o fogo, assim como a do poeta.
Eu moro com todos os poetas.
Me refiro aos corajosos, claro. Como o fogo.
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Na cidade baixa alaga, há festas quando há sol
A distância entre as festas pode ser muito maior
Do que a entre os que não se locomovem
Que louco move-se ao sertão no sol mais cancerígeno
Ou à cidade baixa na chuva mais nociva
Pra poder dançar mais um tiquinho
No tanto a mais onde brilhou a vida?
Que eu já vi passarinho voar em todo tipo de clima
Que eu já vi passarinho cantar em todo tipo de lida
Que o canto fora da gaiola é mais bonito
Que na alma, gaiola e asa tem mesmo princípio ativo
Vivi festas em toda festa que não pude ir
Que sempre há vida onde estou
Sem aperreio se ninguém veio ver o que eu sou
Há mais asa que gaiola em mim.
terça-feira, 11 de julho de 2017
Infelizmente, insuficientemente rápido
Nem sei ao certo que espécie era
Um tipo meio engravatado
E tive o desprazer de ouvir a sentença:
“Parece que aquele bicho tá comendo a novata”
Poderia lançar os novos para cima, como fosse bamborim
Na esperança de pegar um menos mortal
Não ia adiantar. Minha bile iria explodir
Mas qual seria a parte menos letal?
Colocar o homem no lugar de bicho,
Esse significante perigoso, cultura de estupro, parte do jogo
Todas as conversas que houveram, possíveis galanteios
Reduzidos a arrodeios
Culminantes na saciedade carnívora
De um bicho incontrolável, praga viva
Ou seria a escarrada que ele deu ao terminar a sentença?
Dominação monetária sob o corpo da estagiária
Que não consideram mulher, nem ser humano
Para ser um pedaço de carne enrolado com pano.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
Te acaricio como a mim mesmo
Tua pele, cor da noite mais escura
Bem como nossos velados segredos
Úmidos, constantes e gelados como a ponta de nosso nariz
Como teu olhar que finge não saber da despedida presente desde teu batismo
Teu olhar, este amarelo sob o negro, como os postes despostos ao léu, como nós, que evidenciam a chuva, a beleza, o silêncio e o medo
Pétalas brancas resistindo à chuva, ao abandono
Como nossas patas, que parecem não se sujar e, inclusive, limpam os caminhos
Nosso caminhar prosperará, minha rosa negra como a morte, este constante ainda não que abrilhanta os dispostos
Continuarás florescendo em mim e serás regado com as lágrimas de sangue que arrancastes do sofá, dos bonecos, das portas, da minha pele
Conto meus quases
Conto com teu perdão
Conto com o polo de onde nasce a energia
Com o polo onde se morre de frio
E me equilibro sob o fio tênue da moderação
Sem corda de segurança
Com um mar de defuntos famintos que urram sem saber se não viveram o que queriam, o que não precisavam ou o que não conseguiram.
sábado, 1 de julho de 2017
E embelezar o meu jardim
Onde enfim tudo em ti irá florir
E eu, teu terreno.
Solo ameno, tua luz
Te abrilhantaria a fé, a cor, a dor
De espinho que veio expulsar
Afugentar
Tudo o que invadir a quietude de teu sorrir
E eu, teu sereno
Respeito o tempo de ver
Teu orvalho lindo, a fé, o choro, o ardor
Que eu sempre quis
E se eu, impuro, for te tocar?
Dor imensurável te ver murchar
Desse éden vou me expulsar
Herdarás meu jardim
Essa saudade que dói não se matar
O teu sol, tua raiz, não pude ser
Tento virar serpente para te dar mais saber
E se eu, impuro, for te abraçar?
Põe teus espinhos a me atravessar
Finalmente hão de revelar
Que somos distantes
Meu abraço pode te sufocar
Tua serpente, teu adão não pude ser
Eis que torno-me flor pra sentir pulsar nosso ser
Vou vislumbrar desabrochar a vida em si
Nosso sorrir, sem piedade, se redimir
E eu, teu pequeno
Choro e peno de amor
Mas com um sorriso de fé, de show, louvor
De quem bem viveu
quarta-feira, 24 de maio de 2017
Respondi que ainda não
Como quem tem perdido um jogo mas está aprendendo a jogar
Repensei
Tenho de me perguntar
Que jogo é esse, o que se ganha, o que se busca nele?
Eu sei o que querem de mim
Que eu possa usar como medalha
O título de pessoa feliz
Felicidade é só uma palavra
Escrita no peito com navalha
Como fosse uma tatuagem
Levita tempo até que cicatrizes e vires flor
Passou muito mais tempo sendo corte e cicatriz
Seu estado florido é curto que só a vida
Mas é o que querem de mim
Para que eu gaste algum dinheiro, busque alguma lida
O que você acha que é ser feliz?
Fique aí com suas suposições
Eu não quero ser feliz, eu não quero vencer
Nem me apetece nem tenho dinheiro pra isso
Eu quero viver e ter uma vida gostosa
Em termos gastronômico-existenciais, masoquistas e maternos.
domingo, 21 de maio de 2017
Repouso mínimo, a poesia
Sirvo-me uma ótima bebida
Azeitonas de tira gosto
Quanto menos contemos os impulsos, mais animalescos e deliciosos parecem ser nossos prazeres.
Eu bem quis enfiar um monte de azeitona na boca e me embriagar de excesso
Mas tinha caroço.
De certo, morreria engasgado
Comecei a ser lembrado
Do que me trouxe até aqui
Eu pedi tanto ao meu corpo:
- Corpo, não me trai
Se mantém firme
não decai
Que eu nunca precisei tanto de ti, corpo.
Eis que de repente, na eminência de perder tudo
Lanço-me com todo o vigor que me resta, não muito,
Pra pegar o penúltimo ônibus que saiu de meu terminal.
Meu corpo não chega. Perco
Tornozelo lateja. Percebo
- Não me trai, corpo
Ainda tem muito chão pra azeitona
Tanto pra carregar
Aguenta mais um pouco
Bem sei
Não te bonifiquei com repouso merecido
Bem sei
Eu te neguei o gozo requerido
Bem sei
Mas não me trai, corpo
Desço na avenida
Passo por uma favela
Linda de ver naquela hora.
Do portão, a mulher de camisola se esgueira a atrás do portão
Chamando alto a menina que jogava bola de gude descalça no chão de barro.
- Açucena!
A menina fingiu não ouvir até onde pôde
Entre muxoxos e resmungos, a mulher grita pra menina
Pra que a menina corresse até a esquina pra chamar Paloma.
Paloma aparece na varanda, que é puxadinho de outra casa,
E fala o mais alto que pode:
- tá. peraê. Tô indo
O limite estético da mulher não querer sair do portão
O limite jovial da menina não querer perder seu cocão
O limite adolescente que Paloma não queria ter
O limite do corpo que eu não queria ser
Magicamente, o tornozelo não dói mais
Brevemente, olho pra trás
Percebo que foi viver em meus limites
Que me fez achar as matrizes
De ser um trombadinha intelectual
Um garanhão mal amado
Tradutor mal interpretado
Comilão magro
Delícia de louco
Um anjo torto
... que gosta de azeitona com caroço
Porque reteve o gosto divino dos limites e acompanha vigilância.
Está nascendo um novo líder.
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Nomes da minha agenda
Motivos para contenda
Saudosismo doente
Instintos dormentes
Risco
Corrido com o gosto
De quem já aprendeu de verdade
Qual o valor, Qual o sabor da liberdade
Qual o valor, qual o sabor da felicidade
Tem gosto de nada. Não existe
Sobremesa de um chef triste
Que colocou todo seu tempero na entrada e prato principal
Um menu com gosto de suor
De lágrima, mato, de maresia, ar rarefeito
Um novo banquete perfeito
Com sentidos inscritos na matéria
Risco
O cardápio inteiro sempre que o degluto
Até porque é exigência do chef
Para que cada dentada faça sentido
Para sentir o novo banquete vivo
Você
É.
Você é risco
Acidente, rascunho, poesia inacabada
Refazer-se, reescrever-se, recitar-se
Todo dia.
É.
É risco.
Melhor dois pássaros voando
E tu com as mãos livres
Não condense raízes
Nem terceirize, nem materialize
O teu bem estar.
Somos garranchos, a vida também.
Assumamos então todos os riscos
Que estar vivo é um perigo
E uma delícia também.
Meus parabéns ao chef.
O joelho rachava, a alma tremulava
Mas ele manteve firme
Para alcançar o que acreditava
Ser tudo o que lhe faltava
Era tanto choro...
Olho secou, chorava suco gástrico
Mas ele se manteve firme
Para alcançar o fantástico
Tudo o que lhe faltava
Era tanto mundo...
Que ele desistiu sem querer
Mas era tanto mundo, que ele gostou de ser
Rolou no chão, aprendeu arte de desistir
Daquilo que só enfada, te ceifa a vida
Oferecendo um prêmio de louvor
Ao sol que era teu e alguém levou.
Nasce um sol a cada olhar.
Matemática fácil.
Desiste do sol que não é teu.
Torna-te pois teu próprio.
Teus instintos te mostrarão o caminho.
Desiste, Menino.
domingo, 14 de maio de 2017
Ele sentiu
Ela não queria que ele sofresse de amor
Ele sofreu
Ela queria que ele dormisse
Não dormiu
Ela não queria que ele perdesse
Ele perdeu
Ela não queria que ele sentisse frio
Ele sentiu
Ela não queria que ele sentisse medo
Ele tremeu
Ela não queria que ele caísse
Ele caiu
Ela não queria que ele esquecesse a fé
Ele esqueceu
Ela queria a pele dele fina
Calejou
Ela queria protegê-lo
Conseguiu
No desespero mais profundo
A sentiu.
Na dor mais aguda
Se lembrou
Das lágrimas, dos esporros, de suas tabaquices, de botar o lixo pra fora, de apagar a luz do quintal, de saber seu lugar, de não falar alto que está com fome, só no seu ouvido, de guardar seus brinquedos, separar a farda da escola pro dia seguinte, de arrumar a bolsa, de respeitar os mais velhos, de varrer o terraço, de pedir a benção, de se despedir.
Se lembrou de sua mãe solteira.
De sua mãe guerreira.
De como ser fogueira
Nesse mundo gélido.
Chama eterna que brilha sobre a minha.
Longe das 1% mesquinhas
Ostentando em capa de revista
Aparência perfeita no dia após o parto.
Não sabem elas o que é abraçar o filho durante assalto
Abaixar sua cabeça no ônibus, fazê-lo nem perceber
Não sabem elas o que é não ter roupa nova para não atrasar a escola
Comprar-lhe bolsa nova, ir trabalhar de sacola
Ele encontra a fé perdida.
Em si mesmo, constante lida
Se lembrou de sua mãe solteira.
De sua mãe guerreira.
De como ser fogueira
Nesse mundo gélido.
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Quando tu olha pra cima
Saltita em si, menina
Sorriso lindo de ver
Nasceu uma flor na minha varanda
Lá ela repousa e se encontra
Floresce mais do que devia
Perde a hora mas ganha o dia
É tão bom te ver
Quando tu olha pra baixo
Olhar já ressacado
Choro engolido, perdido
Murcha uma flor na minha varanda
Lá, mariposa perturbada e atraída pela luz
Confusa, cansada, se reduz
Míngua como chuva cai no samba
É tão bom te ver
Completar cada ciclo que precisa
Crescer minha flor, tão linda
Embora se permita chamar de bebê
Nasci raiz lá na minha varanda
Como há muito tempo fui convidado
Estou te esperando, mais calmo
Pra lavar tua roupa e deixar secar
Inclusive esse orvalho
Que convencionastes chamar de lágrima.
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Solo, pisco, furto a cor
Do mundo, para dentro de mim
Fazer rufar tons que eu nunca vi
Boca que fala é tambor
Solo, falo, sinto o sabor
De um mundo que há dentro de mim
Dá tapa de tons que eu nunca senti
Pele que estica é tambor
Solo, arrepios de amor
De um mundo tatuado em mim
Rugas ensolaradas afinam-se
Sexo que reverbera é tambor
Orquestra de olho, boca, pele, furacão
Sentidos de mundos em colisão
Ejaculando via láctea
Tempo é tambor
Marcapasso do coração de Deus
Segundos mundos para os quais não temos
Coragem de ver que neles, morremos.
Trovão é tambor.
Solo sombrio de fazer temor
Em quem não afinou mundo e alma
Pra responder contratempo, batendo palmas.
Mar é tambor
Quebrando tudo o que encontrou
Sem perder o andamento
Improviso sustento.
O mundo inteiro é um tambor
Que cabe dentro de mim
Eu por inteiro sou tambor
Cada som, universo que teci.
terça-feira, 9 de maio de 2017
Eu tirei a barba
Ela protegia-me as duas faces
Me pedia carinho o tempo todo, eu dava
Quando eu queria refletir, me ajudava
Era outra coisa quando eu tinha barba
Algumas expressões ela ocultava
Para questões de sexo, funcionava.
Com aparente experiência ela me presenteava
Ela não me protege mais
Não tem mais carinho
Não tem mais tempo
Estou sozinho.
Ela não mais esconde
As expressões de um pavor, solidão que sinto
Por gritar por socorro e não ser respondido
Ela não mais esconde
Que o problema é meu, a falta de experiência
Que só se supera admitindo sua existência
Tem ausência que dói.
Se não, deixa pele desprotegida
Deixando espaço pra rugas
Lembrarmos do fim da vida.
(Que é já já)
Então deixo ela cair
Onde ela bem entender
Para que sem enlouquecer, nem pressionar
Eu possa cair em mim